Paolo Benanti não é um frade qualquer; é o conselheiro de confiança do Vaticano e do governo italiano para as questões éticas relacionadas com a inteligência artificial. A sua vida quotidiana divide-se entre a contemplação do Espírito Santo e os espectros das máquinas. Recentemente, a sua agenda tem estado repleta de eventos notáveis: desde o encontro com Bill Gates e a participação em comissões para salvaguardar os meios de comunicação italianos das linhas editoriais geradas pelo ChatGPT, até à colaboração em iniciativas para proteger os mais vulneráveis da tempestade tecnológica que se aproxima.
Como é que um homem de fé pode influenciar o curso da tecnologia? Benanti, através da sua participação em conferências e da sua colaboração no “Rome Call“, uma iniciativa conjunta do Vaticano, do governo italiano, de Silicon Valley e da ONU, defende a necessidade de uma governação global para evitar o colapso social. O frade de 50 anos, autor de numerosos livros e professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, considera que a sua missão é aconselhar a partir de uma perspetiva ética e espiritual, partilhando as suas reflexões com o Papa Francisco e com o mundo.
Preocupações e potencialidades
Em plena era digital, a inteligência artificial (IA) está no centro de um intenso debate sobre o seu impacto na nossa sociedade e na nossa economia. Até onde pode ir a IA na transformação do nosso mundo? Paolo Benanti alerta para as potenciais desigualdades que a IA pode intensificar. Imagina um futuro em que os avanços tecnológicos deslocam em massa os trabalhadores para tarefas menos qualificadas ou, pior ainda, para a inatividade.
Benanti também vê um lado positivo neste cenário. Salienta como a IA pode revolucionar a produtividade em países com populações envelhecidas, proporcionando um apoio vital para sustentar as suas economias.
Mas como é que garantimos que estes avanços beneficiam todos e não apenas alguns? A chave, de acordo com Benanti, reside numa regulamentação eficaz e ética da IA, garantindo que o seu desenvolvimento está alinhado com o bem-estar humano e os valores morais.
Ao refletir sobre estas questões, Benanti não perde de vista a importância da educação e da preparação das novas gerações para enfrentar estes desafios. Propõe uma formação ética na utilização da IA, para que os futuros profissionais possam tomar decisões informadas que considerem tanto o potencial como os riscos desta tecnologia.
Estamos preparados para assumir a responsabilidade de conduzir o curso da IA para um futuro mais justo e equitativo? A contribuição de pensadores como Paolo Benanti é crucial neste debate, lembrando-nos da importância de equilibrar o progresso tecnológico e os princípios éticos.
A ligação entre fé, tecnologia e humanidade
Na sua busca do equilíbrio entre fé, tecnologia e humanidade, Paolo Benanti oferece uma perspetiva única e estimulante: é possível a espiritualidade coexistir com a revolução digital? Benanti acredita firmemente nesta possibilidade, argumentando que a tecnologia, quando orientada por princípios éticos e morais, pode enriquecer o tecido social e espiritual da nossa sociedade.
Este frade cibernético vê a inteligência artificial como uma ferramenta que, se usada corretamente, pode ampliar as nossas capacidades humanas sem substituir a nossa essência, a nossa misericórdia. A sua visão é a de um futuro em que a tecnologia serve para melhorar a qualidade de vida de todos, não só em termos materiais, mas também em termos espirituais.
Como podemos então moldar este futuro? A resposta de Benanti centra-se na educação, na formação ética e na criação de um quadro regulamentar global que veja a tecnologia como um serviço à humanidade e não como o seu senhor. Com as suas vestes de frade e a sua visão futurista, Benanti recorda-nos a importância de manter a nossa humanidade no centro da inovação tecnológica.