Como a inteligência artificial transformará o campo de batalha?

10 junho, 2024

A inteligência artificial está pronta para transformar não apenas o campo de batalha, mas também a dinâmica entre autocracias e democracias, e o equilíbrio de poder entre o setor privado e o público. Como a IA afetará a guerra moderna e quais são as implicações para o futuro do poder global?

Um campo de batalha futurista com drones e aviões de combate pilotados por IA em pleno conflito, destacando a combinação de tecnologia avançada e elementos bélicos tradicionais.

Segundo um artigo publicado pela Bloomberg, a inteligência artificial (IA) tem o potencial de tornar os conflitos mais letais e difíceis de controlar. A visão de analistas de um futuro onde máquinas pilotam aviões de combate com mais destreza que humanos, ou onde ataques cibernéticos habilitados por IA devastam redes inimigas, é cada vez mais tangível. Essas tecnologias avançadas poderiam acelerar a tomada de decisões a tal ponto que poderiam desencadear uma escalada rápida e incontrolável, até mesmo a nível nuclear.

Mas, é realmente novidade que a tecnologia aumenta a intensidade dos combates? A história da guerra está cheia de inovações que tornaram os conflitos mais rápidos e brutais. Desde a artilharia pesada até as armas nucleares, cada avanço levou a guerra a novos níveis de ferocidade. Portanto, embora a IA certamente vá mudar a guerra, devemos ser cautelosos ao assumir que fará a escalada incontrolável.

De fato, a IA pode reduzir o risco de escalada desenfreada ao proporcionar aos líderes uma visão mais clara em momentos de crise. O Pentágono, por exemplo, acredita que as ferramentas analíticas habilitadas por IA podem ajudar os humanos a classificar informações confusas ou fragmentárias sobre as preparações inimigas para a guerra. Essa capacidade poderia mitigar a incerteza e o medo que muitas vezes levam a reações extremas.

Um exemplo dessa capacidade é como a inteligência artificial ajudou os analistas americanos a detectar a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Essa assistência permitiu uma compreensão mais profunda dos eventos, o que, por sua vez, pode melhorar a capacidade dos tomadores de decisão de gerenciá-los de maneira eficaz.

A IA fortalecerá as autocracias ou democratizará o poder?

A Bloomberg levanta uma questão inquietante: a inteligência artificial ajudará as autocracias a controlar o mundo? Analistas como Yuval Noah Harari alertam que a IA poderia reduzir os custos e aumentar os benefícios da repressão. Equipados com IA, os serviços de inteligência precisariam de menos pessoal para analisar a vasta quantidade de dados que coletam, permitindo-lhes mapear e desmantelar redes de protesto com precisão. Além disso, tecnologias como o reconhecimento facial habilitado por IA permitirão que os regimes autoritários monitorem e controlem seus cidadãos de maneira mais eficaz.

Um exemplo claro dessa tendência é o sistema de crédito social da China, que utiliza IA, reconhecimento facial e big data para regular o comportamento dos cidadãos, afetando seu acesso a empréstimos e passagens aéreas. A vigilância assistida por IA transformou Xinjiang em um modelo distópico de repressão moderna, demonstrando como a tecnologia pode ser usada para manter o controle sobre a população.

No entanto, não é uma conclusão inevitável que as autocracias se beneficiem mais da IA. Para que a inteligência artificial funcione eficazmente, é necessário acesso a grandes quantidades de informação e um ambiente que fomente a inovação. A censura na internet na China e o ambiente político cada vez mais repressivo podem limitar sua capacidade de desenvolver tecnologia avançada. Muitos dos principais pesquisadores de IA nos Estados Unidos são originários da China, o que mostra que o talento flui para ambientes mais abertos e livres.

Portanto, embora a China seja um competidor formidável em tecnologia, seu sistema autocrático pode ser um fardo para seu progresso. Em contraste, países com sistemas mais abertos podem se beneficiar de um fluxo constante de talento e inovação, o que pode equilibrar o campo de jogo na era da IA.

O setor privado superará o público na corrida pela IA?

O artigo também destaca como a IA está mudando a dinâmica entre o setor público e o privado. Ao contrário das armas nucleares, cujo desenvolvimento foi dominado por projetos governamentais como o Projeto Manhattan, a IA está principalmente nas mãos do setor privado. Grandes empresas de tecnologia como Alphabet, Microsoft e Meta estão na vanguarda dessa revolução, com investimentos massivos em infraestrutura e talento.

O governo dos Estados Unidos está ciente disso e começou a debater como regular a IA para fomentar a inovação enquanto limita o uso malicioso e previne acidentes catastróficos. A colaboração entre o setor público e o privado é crucial, já que grande parte do desenvolvimento e da inovação vem de empresas privadas.

Um exemplo claro da influência do setor privado é como a inteligência artificial ajudou os analistas americanos a detectar a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Essa assistência permitiu uma compreensão mais profunda dos eventos, o que, por sua vez, pode melhorar a capacidade dos tomadores de decisão de gerenciá-los de maneira eficaz.

Além disso, iniciativas como a Fusão Civil-Militar da China tentam garantir que o estado possa direcionar e explorar a inovação do setor privado. Embora os Estados Unidos, como democracia, não possam replicar completamente essa abordagem, a concentração de poder nas grandes empresas de tecnologia provocará uma resposta governamental nos próximos anos. Espera-se um crescente foco em ajudar o Pentágono a estimular o desenvolvimento de tecnologias relevantes para a defesa e facilitar a transição da inovação do setor privado para armas eficazes.

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